29 de agosto de 2011

Folha em branco

Não tenho nada a te acrescentar, eu não queria te manchar com minhas lamentações vãs, tirar tua brancura e pureza contando meus ais, tão iguais, tão banais, tão clichês. Mas as obviedades dessa minha vida rabiscada contrastam com teu branco ainda subsistente, superior, de quem ainda tem muito a dar, e me incomodam. Vem-me essa súbita vontade de fazer riscos agressivos em tua maciez, te provocar estigmas irreparáveis, não permitir que me apagues os traços, o suor de minhas mãos passando por tua superfície, minhas confissões disfarçadas em palavras jogadas ao vento.

28 de agosto de 2011

Entre nós

Nesse pequeno espaço entre nós cabe mais coisa do que a gente supõe. Cabe um medo, singelo, meio retraído, um tanto quanto sugestionado, que gentil, divide espaço com o desejo. O desejo, porém, parece um pouco ciumento, mal dá espaço para o silêncio de uma troca de olhares cúmplices. Mas o silêncio dos olhares cúmplices cede espaço para algo maior, algo que só vem quando há o desejo, quando há aquele medo, singelo, retraído, um tanto quanto sugestionado por incertezas entre nós atados.

23 de agosto de 2011

Penso e (des) penso

Todos os dias eu penso, penso com pesar e medo e (des) penso. Por que pensar demais em tudo que eu não quero nem em pensamento é mesmo dispensável. Então eu tento fugir das imagens que vão se formando como um story board em minha mente, daí eu faço rabiscos grotescos que não são capazes de ocultar as imagens que se formam tão nítidas, tão coerentes, tão apavorantes à uma menina que, diante da dor de se conhecer, teme que seu mundo a conheça.

"vem jogando tudo pra fora, a verdade apressa minha hora"

21 de agosto de 2011

Meus fragmentos

Meu amor, breve amor... Quem disse que não foi verdade tudo que vivemos? Aqui ficou. Mesmo breve, amor. l MaSan l


Foi embora. De mansinho, de fininho, escorregando e diluindo-se entre meus dedos. E eu deixei, como quem acha bonito ver você se derramar, se espalhar, sair de mim. l L l




Tem algo muito estranho em mim, e isso vem de ti. Uma vontade de te abraçar assim, apertado, e te dizer que te esperei a vida toda. Mas que estranho! De onde isso veio? Não sei o que fazer com o que sinto, pois sinto que estou sozinha nessa. l ... l


14 de agosto de 2011

Elephant Gun

Eu queria poder parar o tempo pra te ter um pouco mais, quem sabe, pra sempre. Pode ser que eu seja exagerada, sonhadora, sim, pode ser, mas eu gosto de ser assim. Você nunca vai saber como eu me senti ao observar no decorrer desses vívidos dias aquela lua no céu, mudando de forma, tão fixa, tão diferente de ti. Você já veio de partida, e disso eu já sabia, mas não me negaria o prazer de dividir contigo a lua, o toque, o calor, o sossego, e agora essa saudade que me invade enquanto através do silêncio do nosso acampamento à noite, observo o dia amanhecer, sabendo que já é a hora do adeus.

4 de agosto de 2011

Do que não é humano

Era mais uma noite feliz entre bons amigos. Começamos assistindo a uma boa partida de futebol, conversando, bebendo, sorrindo. Depois do jogo partimos para a Beira Rio, onde dançamos, continuamos bebendo, sorrindo, vivendo nosso pequeno universo, que não deveria ser da conta de ninguém. Não deveria. Mas houve quem se importasse. Dois rapazes marrentos e parrudos pararam seu carro em frente a nosso grupo, jogavam palavras de ofensa para dois amigos nossos que estavam num banco reservado, a sós. “Ah, vocês são é viadinhos é?”. Ao vermos a cena, nos aproximamos para protegê-los. Viramos alvo também das piadinhas dos ogros. “E as meninas aí? Não querem sentir a pressão da madeira não”? Insistimos para que eles nos deixassem em paz, mas de nada adiantava. Estavam dispostos a “tocar o terror”. Por unanimidade, decidimos sair do local, sem saber que ao sair dali, iria começar uma trama sórdida protagonizada por dois marginais, que nem ousaria chamar de seres humanos. Fomos perseguidos como bandidos, em alta velocidade, cantando pneus, eles nos paravam a cada esquina para continuar despejando sobre nós toda sua imbecilidade e ignorância. “Vocês aí meninas, se beijem, quero ver”. Falavam em tom de ordem, e no fundo era mesmo uma ordem, nós que demoramos a perceber. Eles nos fecharam numa esquina e começaram a nos ameaçar. Alguns cederam às pressões... “vamos fazer logo o que eles querem, quem sabe eles nos deixam em paz”. Em vão! Nesse instante os choros se tornaram trilha sonora do filme, éramos jovens reféns do medo e da hipocrisia, alvos de dois tiros disparados em nossa direção. Sim, eles estavam armados, e dispararam dois tiros contra nós. Desesperados, saímos soltando fumaça de borracha pelas ruas desertas da cidade, desprotegidos, atônitos. Nossa noite feliz, entre amigos, acabou assim, invadimos um prédio pedindo socorro, descemos do carro, aos prantos, queríamos entender o porquê de tudo aquilo que tínhamos acabado de viver.


“A homofobia reforça em muitos homens sua frágil heterossexualidade. É, pois um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia destinada a evitar o reconhecimento de uma parte inaceitável de si mesmo. Dirigir a agressividade contra os homossexuais é uma maneira de exteriorizar o conflito e fazê-lo suportável”

1 de agosto de 2011

De Olho em um Mundo Melhor

(...) você é do tipo que não há como invadir, do tipo que ninguém observa passeando pela rua ou comprando roupas, mas você é do tipo que brilha quando te olham de verdade e fica me olhando com seus olhos espalhados, me ouvindo com seus milhares de ouvidos espalhados, mas mesmo com tantas bocas suas por aí você nunca diz pra onde é que eu devo ir pra conseguir te ter e pra meu sonho crescer junto com você. Às vezes você parece ter necessidade de mim, outras vezes parece que nem me conhece (e que pode) e que segue um caminho sem mim (...)

Hugo Dalmon

Do que sobrou

Essa noite eu orei. Orei como há muito tempo não fazia, orei de joelhos, chorando e clamando a Deus o beneficio do esquecimento. O dia nasceu e eu continuo lembrando, mas as lembranças agora são amargas, se assemelham a um filme triste que eu assisti por displicência no momento contratual. Eu quero esquecer o dia em que, naquele fim de tarde você sentou ao meu lado, e suas mãos tocaram as minhas por debaixo da mesa de um bar. Eu quero esquecer as inúmeras conversas virtuais, as tentativas loucas pelo primeiro beijo, os outros tantos beijos que vieram, os encontros casuais, programados, perigosos... É tudo que sobrou em mim, essa imensa vontade de esquecer. Hoje é dia 1, à gosto de quem quer e precisa recomeçar.


"Emoldurei o fim por vir, polaroid pra registrar. Revejo assim o que não vi, retrato que ainda não há... Recordar o que sobrou, meu sub exposto olhar"