4 de agosto de 2011

Do que não é humano

Era mais uma noite feliz entre bons amigos. Começamos assistindo a uma boa partida de futebol, conversando, bebendo, sorrindo. Depois do jogo partimos para a Beira Rio, onde dançamos, continuamos bebendo, sorrindo, vivendo nosso pequeno universo, que não deveria ser da conta de ninguém. Não deveria. Mas houve quem se importasse. Dois rapazes marrentos e parrudos pararam seu carro em frente a nosso grupo, jogavam palavras de ofensa para dois amigos nossos que estavam num banco reservado, a sós. “Ah, vocês são é viadinhos é?”. Ao vermos a cena, nos aproximamos para protegê-los. Viramos alvo também das piadinhas dos ogros. “E as meninas aí? Não querem sentir a pressão da madeira não”? Insistimos para que eles nos deixassem em paz, mas de nada adiantava. Estavam dispostos a “tocar o terror”. Por unanimidade, decidimos sair do local, sem saber que ao sair dali, iria começar uma trama sórdida protagonizada por dois marginais, que nem ousaria chamar de seres humanos. Fomos perseguidos como bandidos, em alta velocidade, cantando pneus, eles nos paravam a cada esquina para continuar despejando sobre nós toda sua imbecilidade e ignorância. “Vocês aí meninas, se beijem, quero ver”. Falavam em tom de ordem, e no fundo era mesmo uma ordem, nós que demoramos a perceber. Eles nos fecharam numa esquina e começaram a nos ameaçar. Alguns cederam às pressões... “vamos fazer logo o que eles querem, quem sabe eles nos deixam em paz”. Em vão! Nesse instante os choros se tornaram trilha sonora do filme, éramos jovens reféns do medo e da hipocrisia, alvos de dois tiros disparados em nossa direção. Sim, eles estavam armados, e dispararam dois tiros contra nós. Desesperados, saímos soltando fumaça de borracha pelas ruas desertas da cidade, desprotegidos, atônitos. Nossa noite feliz, entre amigos, acabou assim, invadimos um prédio pedindo socorro, descemos do carro, aos prantos, queríamos entender o porquê de tudo aquilo que tínhamos acabado de viver.


“A homofobia reforça em muitos homens sua frágil heterossexualidade. É, pois um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia destinada a evitar o reconhecimento de uma parte inaceitável de si mesmo. Dirigir a agressividade contra os homossexuais é uma maneira de exteriorizar o conflito e fazê-lo suportável”

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Metendo o bedelho onde foi chamado.