9 de abril de 2011

Dos geografismos nossos

Não me olhe assim, como quem descobriu meus segredos todos e sabe como penetrar no mais profundo de mim. Já não quero mais andar perdida, já não conheço as coordenadas de meu próprio coração. Então não me iluda, já faz tempo que deixei de acreditar em Humboldt, com seu determinismo fajuto, e as tais linhas isóbatas. É que no fundo eu sei, em mim você poderia mergulhar, em ti, mal cobriria meus pés. Mas eu insisto em acreditar nas isóclinas linhas magnéticas, talvez por uma vontade incontrolável de te atrair, grudar você, que parece ser mesmo de aço. Utopia degradante, quem sabe você se apega? Persisto queimando a temperaturas equatoriais, enquanto você não sai dos trópicos frios... Distante, muito distante de mim.

8 de abril de 2011

Nem tão longe, nem tão perto

E hoje eu acordei com um gosto de vida em minha boca que há muito tempo eu não sentia. É como se respirar dependesse de te ver, e mesmo sem te tocar, saber de você, ainda que de longe, daqui desse carro onde solitária, te observo sorrir. Você jamais saberá que estive ali, compartilhando o mesmo ar, o mesmo abrigo, na distância necessária pra não me ferir.

2 de abril de 2011

Duas almas, um só corpo

No momento sou duas. Duas almas distintas lutam por meu corpo, que relutante, insiste em ser das duas. Uma quer que eu me solte de tudo que vivi até hoje, por que segundo ela, foi uma mentira, não era eu, era uma farsa, algo criado na intenção de ser aceita, e a outra me diz que nada disso é verdade, que o que eu tenho sido até hoje é exatamente aquilo que sou. Minha razão grita para as duas que nem uma nem outra estão certas. Ocorre que eu acredito em Deus, isso está em mim de uma forma tão entranhada que dificilmente poderá um dia mudar, acontece que acreditar nesse Deus me penaliza por saber que Ele não me daria abrigo, caso eu decida assumir a alma que me diz que sou uma farsa. É tudo tão angustiante, não consigo me desprender desse impasse. Adoraria acordar um dia com meus conceitos mudados, perder um pouco do medo de Deus, ganhar um pouco mais da sua misericórdia, sorrir ao perceber que Ele jamais me deixará, mesmo que eu assuma que até aqui, menti. Esse quarto aqui tem em suas paredes meus segredos, às vezes de tão sufocantes eu os falo baixinho, pra eu mesma ouvir, ou quem sabe, numa forma de oração indignada. “Por que isso foi acontecer comigo? Arranca isso de mim ou então me traz a paz que eu preciso pra respirar aliviada! Eu me desprendi de boa parte dos dogmas que regeram minha vida até aqui, eu não os quero mais, eu não mais os suportaria. Mas e a fé num Deus Santo, que odeia o pecado? O que eu posso fazer com ela? Mudar a natureza de Deus? Mudar a minha própria natureza? Definir novos padrões para o que é ou não pecado? Por acaso criar minha própria forma de interpretar o livro sagrado me traria algum tipo de alivio? Isso também não seria uma mentira? Chego ao fim desse desabafo sabendo exatamente a qual das almas eu pertenço, e é isso que está me matando.

1 de abril de 2011

Espelho embaçado

Esse negócio de se enxergar é deveras tenso. Quem me garante que, sendo eu tão falha ao enxergar os outros, não possa me enganar também ao meu respeito? Já não sou mais uma adolescente, nem tampouco uma criança boba que não sabe o que quer, ou que deseja tudo ao mesmo tempo. Essa mulher aqui ainda é uma menina, pois se nega a aflorar para uma nova fase, tem medo de se entregar, se nega a tentar. Talvez ela não seja igual às demais, ou quem sabe, é diferente, igual a todo mundo.

"Já não me preocupo se eu não sei por quê, as vezes o que eu vejo quase ninguém vê, e eu sei que você sabe quase sem querer, que eu vejo o mesmo que você".